Betão, o pedreiro (lá no meio, pequenininho). A entrevista foi feita a 150 metros de distância. Eu cá em cima do morro.
Quando sai de casa esperava encontrar chuva, não encontrei. Quando saí de casa não esperava encontrar o Betão, encontrei. Pois bem, saí disposto a andar de moto no barro com a chuva que ensaiava cair, entretanto meus instintos climatológicos se provaram absolutamente ineficazes, pois ao contrário do que previa, as nuvens abriram e o sol firmou. Logo no início da viagem, encontrei Betão, um legítimo “pedreiro”, afinal trabalhava sozinho na imensidão de uma pedreira no Morro do Paula, em São Leopoldo. Essa foi a entrevista mais longa que eu fiz, refiro-me à distância entre repórter e entrevistado, pois estávamos distantes uns 150 metros um do outro, eu na ponta de cima do morro, ele lá embaixo retirando a terra de um pedaço do terreno.
Betão sonegou seu sobrenome, disse-me apenas que tinha 45 anos. Quando perguntei se fazia tempo que trabalhava ali, respondeu: “Desde que eu me entendo por gente trabalho e vivo aqui. Isso foi o que eu sempre fiz”, fala com uma saúde pulmonar de quem trabalha duro todo dia e ainda não sente o peso do labor. Insisto se ele trabalha até nos finais de semana: ” Não, hoje tô aqui porque o dia tá bom, aí vim trabalhar”. Trocamos algumas outras frases, despeço-me e saio pensando no trabalho do Betão, perigoso, insólito e pesado. Para mim, claro; para ele não, pois sorri, está acostumado e pelo jeito que fala e sorri, gosta do que faz. Me preocupo com ele, afinal vestia uma calça de abrigo, chinelos e boné, qualquer acidente de trabalho seria fatal. Enfim, segui meu caminho, Betão o dele.
Saio e às minhas costas a pedreira, impressionante mesmo quando vista pelo retrovisor, é uma espécie de fatia da modernização, uma cicatriz do progresso no meio da natureza. (Confira as fotos na galeria abaixo)
Trip off road
Casa antiga perdida em algum lugar entre o interior de Novo Hamburgo e Gravataí.
Segui viagem e agora falo da trip. Dessa vez ficarei devendo o mapa, simplesmente, porque não sei por onde andei. O fato é que fui a Lomba Grande, e logo de cara peguei uma estrada que seguia até uma propriedade particular. Fim da linha dois quilômetros depois. Voltei. Em seguida peguei outra estradinha, com muita terra, brita e animais pastando na beirada. Susto mesmo eu tive, quando um par de cachorros resolve correr um boi para a estrada, e o gigante resolve sair em disparada na minha direção. Pavor. Pensei “Me f…”, entretanto, o bovino deve ter pensado o mesmo quando me viu e se embretou no meio do mato, sorte minha.
Passei por lugares lindos. Paisagens incríveis. Casas velhas, fontes no meio da estrada, morros. Enfim, rejuvenescedor sair de casa. E a chuva? Bom, faz quase duas horas que cheguei em casa e nada de chuva. Andar no barro ficará para outro dia.
Tombo
Andar de moto na terra exige muita, mas muita perícia. Só para ter dimensão do tamanho do “pepino” que é andar de moto na terra, deixo a seguinte explicação: frear é tão eficiente quanto acelerar, ou seja, se for para você cair, você cairá e ponto. Por três momentos demonstrei (modéstia parte) extrema habilidade. A primeira quando entrei numa curva a uns 80 km/h e consegui frear antes de encontrar a cerca (primeiro quadro, com a marca da freada); a segunda quando fui desviar de uma carreta de bois (segunda imagem, a “algoz” carreta) e na pista contrária vinha um carro; e a terceira (penúltimo quadro), quando fui atravessar uma corredeira que cortava a estrada e a roda entrou em uma valeta formada pela água.
Os três quase tombos e o quarto, fatídico, mas não fatal, tombo.
Passado esses sustos, não resisti a uma reta e abusei da velocidade, quando percebi tinha um entrocamento na minha frente, bem que eu reduzi bastante a velocidade, mas quando foi para parar só caindo mesmo (último quadro). Bom, moto de pé, frequência cardíaca estabilizada e bora pegar a estrada de novo. Só achei chato o carro que vinha atrás de mim sequer perguntar se eu precisava de ajuda, só faltou ainda reclamarem que a moto estava no meio do caminho. Mas deu tudo certo.
Então, vou nessa galera! Espero que a leitura tenha servido para incentivar vocês a cada dia andar mais de moto. Os tombos fazem parte, por isso a importância de andar com equipamentos de segurança. Abraços!
Fotos
Crédito: Ricardo Machado